quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Sobre sutiã, drinks e machismos do século 21

Coisas que evito fazer ao máximo: debater sobre machismo, entrar em polêmicas internéticas, e brigar com a minha mãe. Dessa vez me senti obrigada a dar voz a dois dos três, e a briga com a minha mãe vai ter que ficar pra uma próxima oportunidade.

Aqui estamos nós, em pleno século 21, ano de 2012, e só consigo pensar que TUDO mudou e NADA mudou. O tempo passa cronologicamente, mas sinto voltar rumo ao paleolítico. Involução.

A nossa geração de jovens adultos é bem diferente da juventude ativista dos anos 60, 70. Nós já “encontramos” uma base legal pra viver, com algumas coisas mais no lugar, o passe quase perfeito pro gol. E decidimos chutar pra fora. Talvez exatamente por não ter enfrentado nenhuma ditadura ou não ter feito parte de movimentos sociais importantes, a gente não se compromete muito com questões que deveriam ser de nosso próprio interesse. O fato é que isso não deveria justificar tamanha falta de engajamento e esclarecimento sobre coisas que num passado não tão distante nossos pais ou avós lutaram tanto pra conseguir.

Noto hoje uma parte das mulheres que não faz jus ao que tantas outras lutaram durante anos ao queimar seus sutiãs – coisa que considero desnecessária, visto que sutiã pra algumas é uma bênção, rs – e reivindicando seus direitos de votar, trabalhar fora, pelos seus direitos reprodutivos, pela proteção contra violência doméstica, abuso sexual... Vejo uma parcela dessas moças se auto desvalorizando, numa tentativa fracassada de competir com homens através de atitudes e vontades, acabando por se nivelar por baixo. Eles não são padrão de comportamento a ser seguido. Homens também devem evoluir e sair de suas cavernas. As mulheres, de forma confusa, estão "cagando" tudo. E nesse bolo todo, contribuindo com a cultura machista que ainda insiste em permear na sociedade.

Mulheres são desde sempre alvo do machismo, muitas vezes embutidos em coisas que nunca percebemos antes. Já olharam os verbetes “homem” e “mulher” no dicionário? Já viram a diferença entre um “homenzarrão” e uma “mulheraça”? Um “homão” no dicionário pode ser um cara forte ou talentoso. Um “mulherão” é apenas uma mulher que mostra muita “abundância”. Se ela tem talento? Oras... E ter uma bunda grande não é talento hoje em dia?! Valeska e Melancia não me deixam mentir.

É assim que mulheres ainda vivem, numa cultura tão machista, na qual mostrar peito e bunda (e mais) é permitido, mas falar sobre sexo não. Bem... Permitido é. Se você vai ser desvalorizada depois, amiga... Problema seu! Responsabilidade sua.

Diferenças salariais, cantadas no meio da rua, mãos bobas na boate... Quanto mais a gente vai ter aguentar? Nós somos culpadas em parte. Tivemos e temos chances todos os dias de mudar essa situação e não o fazemos. Quando o próximo engraçadinho passar do seu lado na rua e sussurrar alguma coisa nojenta no seu ouvido, vai fazer o que? Gritar? Seguir pra casa como se nada tivesse acontecido? Se algum cara meter a mão na sua bunda no meio da balada? A culpa é sua porque estava de vestido curto? Ou por que bebeu demais?

Não é normal, não é ok esse tipo de comportamento. Por parte dos homens e das mulheres. Um comportamento só se repete porque alguém ainda permite que ele aconteça.

A gente gosta muito de meter o pau e tecer críticas a países e culturas que subjugam e subestimam as mulheres, e as apedrejam, por exemplo, por serem adúlteras ou perderem a virgindade antes do casamento. Mas aqui é aceitável que a gente leve cantadas esdrúxulas no meio da rua sem falar nada, ou que um cara venha abordar uma garota na noitada pegando com força pelo braço.

E as justificativas pra isso? “Elas gostam. Faz bem pro ego delas.” “Mulher que usa roupa curta, quer chamar atenção.” É, ela quer sim. Mas quem disse que ela quer chamar a SUA atenção, amigo? E que forma é essa de “elogio”, gente? Nunca vi mulher nenhuma, depois de receber uma típica cantada abusada no meio da rua, voltar pra falar com o cara e dar o telefone pra eles saírem depois. Eu, hein!

Pra não focar muito na polêmica, mas já abordando o assunto... É o mesmo caso da menina no BBB. Ninguém sabe exatamente o que aconteceu, mas o fato é que houve um comportamento abusivo. Assim como aqueles que eu descrevi acima. Mulheres de roupa curta, decote ou com muito álcool no sangue não são carta branca nem dão o direito a ninguém de abusar daquela condição pra tirar proveito.

Passa uma moça de roupa curta... Achou bonita? Gostosa? Feia? Guarde seus comentários pra si. Ela não precisa saber o que você pensou até te dirigir a palavra.

Tem uma moça bêbada e caída na noitada... Você se acha no direito de se aproveitar? A culpa é dela, afinal “ninguém mandou encher a cara”?

Tem gente que vê uma bolsa aberta ou um vidro de carro abaixado e se acha no direito de meter a mão e pegar tudo que tem lá dentro. A culpa é do descuidado ou do mal intencionado?

Hora de rever os conceitos.

Um comentário:

  1. Paolaaaa arrasou. Parabéns! Em belas palavras mostrou a sujeira do dia a dia.
    Essa sua frase foi demais: " As mulheres, de forma confusa, estão "cagando" tudo. E nesse bolo todo, contribuindo com a cultura machista que ainda insiste em permear na sociedade." que essa minoria ou maioria ja não sei mais, não permita regredirmos ao tempo das cavernas.
    Que leiam seu texto, reflitam e comecem a buscar novos padrões de vida.

    ResponderExcluir