domingo, 19 de setembro de 2010

Tempo e memória

Sinto saudades de dias menos confusos, mais tranqüilos, menos estressantes, mais prazerosos. E quando eles assim os eram, não conseguia enxergá-los dessa forma. O clássico momento do “não dei valor quando tinha, e agora quero de volta”. Mas, infelizmente, a vida não é assim.
Constantemente vejo as pessoas reclamando do atual momento de suas vidas, e desejando os momentos passados. Saudosistas que somos enxergamos sempre, ou procuramos enxergar, os momentos anteriores como bons/ótimos. Os problemas não eram tão complicados assim, aquele último namorado(a) nem era tão grudento(a) ou ciumento(a) assim, aquele seu outro emprego nem te pagava tão mal e você era feliz ali, aquele seu vizinho nem era tão chato perto do novo vizinho do 302, e a lista poderia continuar.
Se o tempo e a memória não fossem tão importantes, nós nem pensaríamos nesse tipo de comparações. O tempo é o mestre das curas. Cura um coração partido, cura uma saudade de quem mora longe, cura até mesmo aquela mágoa que você poderia jurar nunca esquecer. É isso. O tempo cura aquilo que a gente sente de ruim. A memória desses sentimentos de dor, perda, rancor, etc com o passar do tempo vão se tornando menos intensos, dando espaço para boas lembranças.
Talvez venha daí a imensa saudade que muita gente sente (comigo mesma incluída) da infância. Naquele tempo, pensamos nós hoje, que tudo era muito simples. E de fato, com o olhar de um adulto, era. Mas com os olhos de uma criança, o mundo era uma máquina complexa, cheia de seres humanos desconhecidos prontos para, por exemplo, nos decepcionar (apesar de eu ainda pensar assim até hoje). Quantas vezes você chorou quando pequeno por puro desespero ao ver seus pais brigando, pensando num possível abandono de uma das partes? Quantas vezes você teve medo de desapontar seus pais (ou medo de castigo, ou até de uma surra mesmo) quando levava uma nota baixa pra casa?
São medos comuns em uma criança, mas nem por isso são situações fáceis de administrar. Mesmo com seus medos, as crianças não deixam de ir pra escola, por exemplo. Pela falta de autonomia nós, enquanto crianças, fazemos aquilo que nos mandam fazer (a não ser que você seja um caso de criança rebelde, vulgo, pentelha. Sim, crianças que não obedecem pra mim são pentelhas.).
Comparativamente falando, os problemas de uma criança são do tamanho e de acordo com suas capacidades psíquica e fisiológica. E caminham dessa forma para que haja o desenvolvimento do indivíduo. O medo do abandono dos pais a gente tende a carregar pra uma relação amorosa ou de amizade, o receio de falhar e as obrigações que tínhamos com a escola a gente leva pro trabalho. A diferença se dá em como nós lidamos com esses medos e responsabilidades.
O tempo nos mostra que conforme ele passa a gente se desenvolve. Nosso corpo amadurece, e nossa mente também. E conforme nos desenvolvemos e amadurecemos, nossos problemas, medos, responsabilidades e afins também acompanham esse processo.
Já a memória é um artifício que possuímos para processar e sentir todas as emoções e poder vivê-las novamente. E esperto como é o nosso organismo, ao lembrarmos de coisas ruins, vivenciamos toda aquela dor e sofrimento de novo, o que não é nada interessante. Daí, tempo e memória começam sua parceria. O tempo ajuda a memória a mostrar menos e dar menor importância às lembranças ruins, e a enfatizar mais os momentos felizes, fazendo o corpo sentir tudo de novo a cada vez em que se recorda de certo momento. A memória também nos serve de alerta, para que situações ruins não se repitam. Daí a nossa idéia fixa em achar sempre que “antes as coisas eram melhores do que agora”. Por isso existe tanta gente saudosista, assim como eu.
Mas parando pra analisar... O meu momento saudosista de daqui a 10 anos é hoje, é essa semana, é esse mês. Então, já passou da hora de reclamar dos problemas de hoje, e deixar pra lembrar deles só daqui a uma década, quando eu pensar que as coisas já não são mais tão maravilhosas como naquela primavera de 2010.

domingo, 5 de setembro de 2010

Jogo da vida

Nem sempre a gente age conforme a cabeça manda. Mas nem por isso estamos sozinhos, ou somos insanos(talvez um pouco...). Sim, eu, você, nós todos agimos por impulso, e contrariando todas as normas, uma vez ou outra cedemos ao que o corpo está pedindo. E não necessariamente, o que seu corpo pede é exatamente o que você precisa.
Às vezes tenho a impressão de que, sem querer(ou por querer), a vida nos mostra outras óticas praquele nosso ponto de vista. Basta prestar um pouco mais de atenção. A gente erra, acerta, ama, e odeia quase na mesma proporção. Vai do ponto de vista. Ou seja, de qual lugar você se enxerga.
Você pode ser o carrasco ou o castigado, pode ser o que diz sim ou que diz não, pode ser a/o bonito ou o/a inteligente, pode ser o que mente sutil e educadamente ou o que fala a verdade mais crua e sem rodeios... Mas peraê! A graça do ser humano não está na sua pluralidade? Então posso dizer muito bem que pra uns serei tirana, pra outros serei a punida, pra uns serei a bonita e pra outros inteligente, pra uns eu minto por carinho e pra outros digo o que penso na cara sem amortecer a queda. Mas e porquê não as duas/todas as coisas?
Quem escolhe em qual lugar se colocar é você mesmo. Momento de agir, momento de recuar. O jogo da vida se dá nessa partida: ou você tem jogo de cintura, ou não tem. E caso não tenha, acredite, vai ter que rebolar.