quinta-feira, 22 de abril de 2010

(Des)Acostumada

Tenho uma certa mania por rotina. Na verdade, eu a odeio com todas as minhas forças. Odeio saber que a tal da rotina me dita o que fazer ao longo do meu dia. Mas é ela que me proporciona a busca por uma estabilidade, por algum controle sobre as coisas que acontecem. É quase um brado por algum poder sobre a minha própria vida e o que nela acontece. Com a rotina a gente já tem lá uma “planilha” do que deve ser feito e não feito, todos os dias.
E, sim, é emocionante ter as surpresas da vida. Mas elas não são necessariamente boas e pra falar a verdade, normalmente essas “surpresas” são imprevistos altamente inconvenientes. E convenhamos que para aturar e contornar essas surpresinhas desagradáveis, só se a gente fizer um planejamento dos nossos afazeres ao longo dia. E isso tem nome: rotina.
Acontece que ela faz a gente se sentir um pouco “robotizado”. Temos uma lista de afazeres todos os dias e conforme o fazemos, não percebemos que podem existir outras coisas, outras atividades entre uma e outra obrigação. É aí que a gente percebe que está tão acostumado a acordar saltando da cama, tomando um balde de café, ler o jornal enquanto está no ônibus rezando pra não pegar aquele trânsito e se atrasar pro trabalho, e quando nos damos conta já é noite e nosso dia já acabou, mas viver que é bom, nada.
Essa coisa de se acostumar é quase uma defesa natural do ser humano. A gente se acostuma a ver pessoas morando na rua. A gente se acostuma a pegar filas quilométricas no banco no início do mês pra pagar aquela conta de luz do mês passado e não saber como vai conseguir manejar o dinheiro pra sobreviver até o final do mês. A gente se acostuma a ver tragédia atrás de tragédia no jornal todos os dias. A gente se acostuma a não mais almoçar ou jantar e sim fazer um lanche correndo entre uma obrigação e outra. A gente se acostuma a ficar satisfeito mesmo quando o trabalho está ruim, porque sabemos que existe o fim de semana pra consolar. A gente se acostuma a se contentar com a cama, caso não tenha nada de interessante pra fazer no sábado e domingo. A gente se acostuma a reclamar, mas não fazer nada para resolver.
A gente se acostuma pra se poupar. Se poupar de sofrimentos, preocupações, problemas... O problema nesse hábito está em exatamente se poupar. Poupando-nos de certas dores, frustrações e sofrimentos, estamos abdicando de viver.
Viver é sofrer, é rir, é chorar, é se divertir, é tomar decisões, é duvidar, é ter medo, é compreender e ser compreendido, é errar, acertar... Não existe fórmula mágica, nem a rotina mais planejada vai fazer você ter controle absoluto sobre a vida. O negócio é ter jogo de cintura e nunca esquecer que viver não é só existir.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Independência de que?

Todo mundo tem como objetivo na vida ser tornar independente. Não é o único, mas é um dos principais objetivos de qualquer ser humano que se preze.
Ser independente é cuidar da própria vida sem depender de ninguém, certo? Correto se for dessa forma que traduzimos uma vida adulta bem sucedida.
Enquanto “dependentes”, dependemos de alguém - ou “alguéns”- para viver ou ainda sobreviver. Daí vem a nossa vontade de sair da casa dos pais, de criar a própria família, ou mesmo curtir vivendo sozinho, e não dar satisfação a ninguém, sem precisar dizer pra onde vai, com quem vai e usando o dinheiro de quem.
Então, construímos o nosso próprio lar, pagamos nossas contas e impostos, e (sobre)vivemos às custas do nosso trabalho, que se torna nosso sustento, que se torna nosso estilo de vida. A partir deste momento, atingimos a tão sonhada independência. Independência essa que pode custar caro, e às vezes não nos deixa verdadeiramente “independentes”.
Explico. Quando temos a independência como objetivo de vida, infelizmente, nos tornamos escravos do dinheiro e passamos a fazer parte verdadeiramente do mundo capitalista em que vivemos.
É o quanto você tem na sua conta bancária que mensura o quão independente e livre dos outros você é. Quanto mais dinheiro, mais independência. Quanto menos, menos livre. É o dinheiro que dita o lugar onde você mora, o que você veste, o que você consome, onde você freqüenta, e com quem você anda. Fazemos parte de algum “grupo” com o mesmo nível de “dependência” ou “independência” que nós.
Mas no final, não seríamos todos nós grandes dependentes? Alguns mais, outros menos. O certo é que o dinheiro é peça fundamental na nossa relação dependência/liberdade.
Porém se despirmos todos nós de qualquer centavo, ao contrário do que muitos dizem, dificilmente seríamos todos iguais. Uns seriam tão ricos que nem imaginam, outros pobres, pois sem a “fantasia” do dinheiro estariam nus daquilo que nunca tiveram: caráter. É ele que nos faz seres dignos da verdadeira independência e liberdade.