sexta-feira, 25 de março de 2011

Ela e Ele, Ele e Ela

Ela estava de coração partido. Ele estava de coração cansado. Ela queria diversão. Ele queria aventura. Se avistaram a uma longa distância. Tão longa, que mal conseguiam se ver. Mas se enxergavam por inteiro. Na saudade, alimentavam a presença diária, mesmo tão distantes. Pisando pé ante pé, sem perceber, foram diminuindo aquilo que os mantinha tão afastados.
Quando se fez a presença, foram surpreendidos. Ela esperava que fosse uma história pra contar em mesa de bar. Ele pensava ser uma história pra contar aos amigos sussurrando pra ninguém mais ouvir. Ela acreditava que depois daquele encontro, iriam seguir seus rumos. Separadamente. Ele pensava que aquilo seria apenas desejo saciado. Mas depois que ficaram lado a lado, já não sabiam mais dizer o que era. Foi preciso um tempo pra entender o que havia acontecido. Mas não muito tempo.
Ela querendo sentir de novo o peso do seu corpo sobre o dela. Ele com a lembrança dela adormecendo no seu peito. E logo, puderam perceber que o desejo latente havia se tornado vontade explícita. E ainda assim, explicitamente doce. Ela e ele, ele e ela, vice-versa, tanto faz. Pra eles não fazia diferença. A reciprocidade morava dentro de cada um.
Ela que pensava ser um homem de saia, e ele que era um não-romântico convicto, agora estavam entregues. À mercê do destino.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Carnaval

Foram dias nada tranquilos, e nos quais pretenção e bagunça - e álcool - eram as palavras de ordem. Poderia dizer que é tudo que eu mais desprezo, mas era esse o cardápio dos próximos 4 dias. Eu me rendi. Na verdade, tentei. Vesti a fantasia do "aqui e agora", e coloquei a máscara do "me divirto com qualquer coisa". Vi todo tipo de gente.
Gente feliz, gente desesperada por um copo de cerveja, gente suada, gente mostrando uma critividade ímpar nas suas elaboradas fantasias, garotos travestidos de mulher por pura diversão, e outros por razões que ainda desconhecem. Presenciei a euforia, a alegria desenfreada de uns, e o descontentamento de outros porque a garrafa de vodka estava vazia ou porque o amigo parou no meio do caminho pra vomitar. Por vezes, me senti câmera de cabine de banheiro de tanta bunda e pinto de fora fazendo xixi por aí. Vi meninas lindas acompanhadas de meninos feios, vi garotos lindos arrumando confusão por bobagem, assisti cenas dignas de pornochanchada dos anos 80, e também vi casais fofos dando beijos apaixonados.
Mesmo com todo esse espetáculo, minha fantasia nesse carnaval não foi de super-heroína, gatinha, enfermeira ou marinheira, e sim de espectadora.
E depois de acabar tudo em cinzas, volto à vida, mas não como fênix. Volto à vida com a fantasia mais interessante e peculiar que poderia me servir: Eu mesma.