terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Mulher misteriosa

Ela era uma mulher de presença, porém discreta. Linda, bem vestida, e com os cabelos sempre perfeitos, como comercial de shampoo. Sempre. Ela não vinha com manual de instruções. Muitas vezes ela nem fazia sentido no que falava. Mas a segurança com que dizia suas poucas palavras fazia qualquer gênio questionar suas próprias idéias.
Suas aparições em festas e reuniões duravam no máximo uns 15 minutos. Tempo considerado suficiente para que ela causasse comoção no sexo oposto, inveja nas mulheres, e fosse embora. Mas sua saída nunca foi vista por ninguém. Uns pensavam tê-la visto indo ao banheiro, outros diziam a ter visto no bar, e ainda alguns diziam tê-la visto com o bonitão do local. Mas logo na próxima piscada, a perdiam de vista.

Ninguém sabia exatamente onde ela morava, ou no que trabalhava. Não sabiam se era solteira, casada, ou até mesmo se gostava de homens ou mulheres ou os dois(!). Já se ouviu de tudo sobre ela, mas nenhum fato nunca foi comprovado. Era sempre o “primo do amigo” ou “a cunhada de fulana” que recebiam as “informações”. Sempre que passava, as fofocas caminhavam atrás dela como um rastro. Já sabendo disso, ela sempre passava com um sorriso sonso no rosto, na tentativa de intimidar os rumores.

Sempre me indaguei sobre essa tal mulher misteriosa. Aquela que muitas mulheres querem ser, e os homens tanto desejam. Eu queria ser uma mulher misteriosa. Mas nunca consegui. Nunca tive a pose e a discrição necessárias a essa condição de mistério.

Ainda bem. Hoje eu consigo enxergar que aquela discrição e as poucas palavras eram porque nada ela tinha a dizer. Ninguém sabia sobre a sua vida pessoal, pois era muito sozinha. Se garantia na sua aparência e no que vestia para se sentir bem na própria pele. Seu sorriso sonso, era pelo simples fato de ser mesmo sonsa. Ela era absolutamente decifrável.

De mistério, ela não tinha nada.