quinta-feira, 28 de abril de 2011

O dia em que resolvi ser loira

Estava eu, há 21 anos vivendo com meus cabelos castanhos numa relação de quase-amor-e-ódio. Dias eu acordava pensando “puxa, como você está bonito hoje” e outros pensando “por que você me odeia tanto, cabelo?”. Mas acho que isso é normal pra, pelo menos, 99% das mulheres. A cor do meu cabelo nunca foi algo que eu fosse muito apegada – sempre me apeguei mais ao comprimento dele. Aos 8 anos pedi pra minha mãe fazer uma mecha no meu cabelo. Quem for nascido mais pro final dos anos 80 sabe do que eu estou falando. Aquela mecha de cabelo descolorida bem na frente da cabeça, tipo no lugar da franja. É lindooo! Not. E o pior: mamãe não só deixou, como ela mesma que fez a obra de arte na minha cabeça.

Não muito tempo depois, aos 10 anos de idade eu já perturbava minha mãe – novamente – e dessa vez querendo pintar o cabelo de vermelho(!) porque uma das Spice Girls era ruiva e eu super me identificava com ela. Mais uma vez mamãe permitiu e participou da epopeia. E sim, Spice Girls em 1997 era SU-CES-SO! Atire a primeira pedra quem nunca cantarolou “If you wanna be my lover, lálá lálá lá láááá”!

Ao passar essa fase, escureci os cabelos. Dessa vez de preto. Era 1999, eu tinha 12 anos, e começava a entrar na pior fase da vida. Em quesito estranheza, de 0 a 10, eu levava DEZ! Nota dez (voz do cara que fala as notas de escola de samba)! Era branca feito um papel, de cabelo preto (quase roxo de tão preto) e uma olheira que só o melhor corretivo salva – e às vezes nem ele. De repente, se fosse hoje em dia, eu fizesse sucesso com os gatinhos do colégio já que eu parecia fazer parte da saga Crepúsculo. Mas não era o caso. Mesmo! Depois disso resolvi que era melhor não tentar mudar o que já estava ruim, pois sempre eu acabava por piorar minha aparência.

Perto de chegar aos 18 anos, meu cabelo era a única coisa virgem em mim. Decidi que era hora de desvirginar e desbravar minha cabeleira imaculada: vou fazer luzes! Comecei discretamente. Passei de um castanho escuro, para um castanho médio, virou meio chocolate, chegando num castanho claro. Nunca tive a intenção de ser loira na vida. Até sacaneava a minha irmã que é loira desde os 14 anos de idade – foi mal pela revelação, sista.

Mas sabe como é, né? Mulher leva cabelo e personalidade muito a sério. Afinal, cabelo é mesmo algo que define bem quem somos ou queremos aparentar ser. Então, me vi com 21 anos de idade, terminando um relacionamento de 4 anos, no último semestre da faculdade, e sem fazer disso uma decisão muito elaborada, concluí que era hora de mudar e falei “Pode clarear! Sem medo.”

Nunca pensei que um elemento como “cor de cabelo” fizesse tanta diferença. Passei um bom tempo me acostumando com a ideia de ver uma loira no espelho, e ser chamada de “loirinha” ou até “lorão” (?) no meio da rua. Tem amigas minhas que até hoje não conseguem me enxergar dessa forma, e pessoas que me conhecem hoje e não me imaginam de cabelo escuro.

Confesso que achava mais “fácil” ser morena. Ninguém me chamava de “morena” no dia a dia como me denominam “lôra”. Não que isso me incomode, mas me levou a pensar que num país onde quase nenhuma mulher é genuinamente loira, por que existem TANTAS loiras andando por aí?

Ser loira é caminhar nos extremos. Se você for uma loira tímida, um pouco mais na sua, você vai parecer 10 vezes mais recatada do que realmente é. Será a própria mocinha inocente de filme de terror que é assassinada logo nos primeiros 10 minutos de filme por ser, obviamente, ingênua demais. Se você tiver uma personalidade mais desinibida, sem muitos pudores, você cairá facilmente na categoria das vulgares. Você seria a vilã da novela: rica, muito poderosa, bem maquiada e, provavelmente, promíscua ou com um passado condenável.

E agora, Paola? Moça ingênua e virginal, vestida de estampa floral ou mulher decidida e sem pudores, pronta pra guerra dentro de um figurino justíssimo? Dentre as opções, fico com meu vestidinho colado e florido, pensando os maiores absurdos do mundo enquanto sorrio da forma mais doce possível.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Só por hoje

Só por hoje eu quero dormir sem hora pra acordar. Só hoje eu não quero atender se meu telefone tocar. Hoje eu não quero ninguém pra me incomodar.
Só por hoje eu quero ver anoitecer com você do meu lado. Só hoje eu quero adormecer ainda abraçado. Hoje eu quero vadiar sem pecado.
Só por hoje eu quero não me sentir culpada. Só hoje eu quero me divertir na madrugada. Hoje eu quero entender essa charada.
Só por hoje eu quero poder gritar. Só hoje eu quero que alguém entenda os conflitos que berram em mim sem parar. Hoje eu quero um ombro pra chorar.
Só por hoje eu quero ter sorte. Só hoje eu preciso ser forte. Hoje eu quero que você me conforte.
Só por hoje eu quero pensar. Só hoje eu quero apostar. Hoje eu preciso despertar.